Lançado 30 anos após a gravação, álbum feito por Donato em 1988 soa atemporal

Por em 03/30/2018


Segundo dos três álbuns inéditos de João Donato lançados na caixa A mad João Donato (Selo Discobertas), de acordo com a ordem cronológica de gravação, Naquela base foi feito com dose de experimentação bem menor do que a que moldou o antecessor Gozando a existência (1977 / 1978). A loucura maior reside na forma como o disco foi gravado e arquivado há 30 anos.
Um admirador japonês da música de Donato, Yoichi Ogawa, ia todos os shows feitos pelos pianista e compositor acriano na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Tanto que despertou a atenção do próprio Donato. Da admiração nasceu uma amizade entre Ogawa e o artista. A ponto de o fã japonês ter proposto a Donato a gravação de um disco com os custos arcados por Ogawa.
Assim foi feito Naquela base, álbum gravado em 24 canais nos Estúdios Transamérica, entre 31 de maio e 8 de junho de 1988. Só que Ogawa voltou para o Japão, deixou as fitas da gravação com Donato e o disco acabou arquivado até ser encontrado pelo pesquisador musical Marcelo Fróes no acervo pessoal do pianista, vasculhado por Fróes desde 2014.
Capa da caixa ‘A mad João Donato’
Divulgação / Selo Discobertas
Lançado enfim após 30 anos, o álbum Naquela base mistura registros instrumentais do cancioneiro de Donato – casos de composições então recentes como O fundo (João Donato e Caetano Veloso, 1986) e A paz (João Donato e Gilberto Gil, 1987), lançadas nas vozes das cantoras Leila Pinheiro e Zizi Possi, respectivamente – com músicas que o compositor nunca mais gravaria de forma oficial. São os casos de Varanda e de Som montuno, salsa que explicita a latinidade inerente à obra de Donato.
Som montuno e a música-título Naquela base – composição lançada por Donato em álbum de 1964 – são as faixas de maior efervescência rítmica do álbum. Ambas expõem a fina sintonia de Donato com os músicos – Edson Lobo (baixo), Luiz Alves (contrabaixo), Márcio Montarroyos (trompete), Ohana (percussão), Robertinho Silva (bateria), Tita Lobo (violão e vocais) e Zé Carlos (percussão) – que formaram a big-band arregimentada para o disco produzido por Yoichi Ogawa e conduzido pelo piano de Donato.
Ouvido 30 anos depois da gravação, o álbum Naquela base soa coeso e atemporal porque, assim como a bossa nova, a música de João Donato parece não ter prazo de validade. (Cotação: * * * *)


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